domingo, 15 de março de 2009

Web 2.0: portas abertas para a real interação

Alçado de mero receptor a um dos principais protagonistas no uso das novas ferramentas de comunicação digital, o usuário de internet encontra na Web 2.0 oportunidades de uma real interação com os profissionais que produzem a notícia. Agora, no acesso à rede, não apenas se consome notícias de todo o mundo, mas consegue-se participar ativamente deste processo de construção da informação.
Para citar apenas um exemplo prático desta mudança, vale destacar a importância da internet como fonte de informações para os catarinenses durante a enchente que afetou o Estado no final de novembro de 2008. Além de portais de notícias oficiais, os próprios usuários da internet localizados em cidades alagadas, como Blumenau, criaram blogs trocando informações em tempo real sobre os pontos interditados na região. Os mais completos traziam, além de textos, fotos e vídeos amadores de ruas alagadas e de áreas afetadas por desmoronamentos.
Ou seja, prestação de serviço, a essência do jornalismo. O desafio agora é levar essa interação para o dia-a-dia das redações. Se na Web 1.0, a interação do internauta limitava-se basicamente em escolher o conteúdo a ser lido, agora ele opina e até contribui diretamente com dados e depoimentos para a produção de conteúdo jornalístico por profissionais. Estes novos recursos afetam diretamente a condução narrativa dada ao texto na internet, exigindo uma transformação – que para alguns é encarada como uma potencialização – na forma como se apresenta uma reportagem.
Lucia Leão(1) defende que com “o novo tipo de interatividade possível através do computador, novas relações emergem e o leitor passa a ter uma função capital, pois sem ele a obra se reduz à mera potencialidade” (Leão, 2001, p 42). Janet Murray(2) potencializa as vantagens das novas mídias para a transformação da narrativa que conhecemos hoje. A pesquisadora aponta a característica “enciclopédica” da rede como a mais promissora para a criação de narrativas nos ambientes digitais. Característica que devemos valorizar também quando a narrativa é apresentada no formato jornalístico.
Murray usa a metáfora do caleidoscópio para explicar o potencial da narrativa digital, lembrando que os meios de comunicação do século XX são, em termos de estrutura, mais mosaicos do que lineares, tendência que acreditamos evidenciar-se na Web 2.0.
"Mesmo quando combina a perturbadora multiplicidade desses meios mosaicos, o computador oferece-nos novas maneiras de dominar a fragmentação. (...). Ele (o computador) nos proporciona um caleidoscópio multidimensional, com o qual podemos reagrupar os fragmentos tantas vezes quantas quisermos, e permite que transitemos entre padrões alternados de organização em mosaicos" (MURRAY, 2003, p 155).
Para a pesquisadora, o poder caleidoscópio do computador permite contar histórias que refletem com maior autenticidade o que ela chama de “sensibilidade da virada de século”.
"Não acreditamos mais numa realidade singular, numa visão única e integradora do mundo, nem mesmo na confiabilidade de um só ângulo de percepção. No entanto, retemos o desejo humano fundamental de fixar a realidade sobre uma tela apenas, de expressar tudo o que vemos de modo integrado e simétrico. A solução é a tela caleidoscópica, capaz de apreender o mundo como ele se apresenta desde diferentes perspectivas – complexo e talvez incompreensível no final das contas, mas ainda assim coerente (MURRAY, 2003, p 159).
Estamos diante de um novo cenário de transformação para os consumidores e para os produtores de notícias. E neste segundo grupo, tanto os jornalistas experientes que atuam no mercado como aqueles recém-formados precisam estar atentos para acompanhar as mudanças necessárias. A reportagem multimídia surge como um desafio na Web 2.0, capaz de representar um passo adiante na narrativa jornalística, trazendo um importante diferencial para a internet. Se o texto impresso usa a profundidade para garantir seus leitores, a TV aposta nas boas imagens e a rádio na velocidade da informação, a internet poderá conciliar estas características com a interatividade que o conteúdo online potencializa. Uma interatividade que, diferente dos outros meios, permite que o leitor participe do processo de condução da narrativa.

(1) - LEÃO, Lucia. O labirinto da hipermídia – Arquitetura e navegação no ciberespaço. São Paulo : Iluminaras, 2001.
(2) - MURRAY, Janet. Hamlet no holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço. São Paulo: Itaú Cultural: UNESP, 2003.

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